domingo, 27 de dezembro de 2009

O Futuro do Livro

Recentemente ganhei o Kindle da Amazon! De tanto choramingar pelos cantos minha esposa querida me presenteou com essa maravilha nesse Natal. Em dezenove de outubro desse ano a Amazon anunciou o Kindle internacional, que pode ser comprado lá e funciona aqui no Brasil através de uma rede 3G em que o usuário não paga nada pela sua utilização. Segundo a Amazon, os custos já estão embutidos no preço do livro, mas existe uma taxa de US$ 1.50 por livro baixado. O download demora no máximo sessenta segundos, porém baixei um livro com 500 páginas em menos de vinte. Minhas observações:

Pontos positivos: Uma infinidade. Um dos que mais gosto é que agora posso ler meus livros técnicos na cama sem perder o ar por causa do peso de quase mil páginas apoiadas no peito. Isso vale para “O Senhor dos Anéis” edição única. Outro ponto mais que positivo: O preço do livro. Se você lê em inglês e comprou um livro de papel na Amazon sabe que paga-se o livro mais o frete, que costuma ser outro livro. Na prática se você compra um livro de dez dólares paga-se dezoito dólares de frete, mais caro que o próprio livro, e ainda tem que esperar pelo menos vinte e cinco dias. Isso quando chega, pois muitas vezes comprei e nunca chegou, embora o rastreamento diz ter entrado em terras tupiniquins, porém nunca vi a cor do produto. Entre confiar na eficácia da Amazon e em nosso correio / Receita Federal, fico com o primeiro. Outro ponto positivo é que alem de não pagar o frete, o livro para Kindle custa mais barato. Exemplo: Obras completas de Sir Arthur Conan Doyle por US$ 6.99. Sim, isso mesmo, tudo que Doyle escreveu por seven bucks. O livro Duna, de Frank Herbert custa US$ 9.99, e a versão em papel custa US$ 17.00. Uma beleza. Antes eu comprava dois a três livros e já me custava cem reais, agora com cem reais compro no mínimo oito livros normais (sem contar “obras completas”, que aí é covardia). Ainda no quesito números, existem cerca de 100 mil livros por menos de US$ 6.00. A Amazon disponibiliza um catálogo de 390.000 livros para Kindle.

O Kindle vem com 2Gb de memória, e isso dá para armazenar cerca de 1.500 livros. Você pode fazer backup no seu PC para liberar mais espaço, caso necessário. Você pode ler arquivos PDF, mas aí já acredito que não faz muito sentido, porque existe toda uma tecnologia de narrativa e bookmarks no formato da Amazon, mas de qualquer forma existe a opção do PDF.

O Kindle também narra o livro para você, caso esteja se deslocando e sinta enjôo, como eu, de ler em movimento. Você pode escolher voz de homem ou mulher e a velocidade de leitura, se normal, de vagar ou rápido. As páginas são viradas automaticamente quando a narrativa chega ao final da página atual, e quando você desliga seu Kindle ele marca a última página lida (por você ou por ele) automaticamente. É possível fazer bookmarks adicionais em qualquer página que você queira, bem como anotações, pois ele vem com um teclado “QWERTY”. Você pode sincronizar a leitura com seu PC e com seu iPhone, assim quando você ligar seu Kindle ele estará na página em que você acabou de ler, seja qual for o dispositivo. Ah, tem acesso à internet por meio do 3G, de graça, sem Wi-Fi. O browser é um navegador padrão sem Java ou Flash, mas para blog ou Wikipédia fica uma beleza. A tela do Kindle não é cansativa. Você pode ler por horas a fio sem se incomodar, inclusive ler na claridade, que até melhora a leitura. Não entendeu uma palavra? Vá com o cursor até ela e o Kindle te mostra o significado, no dicionário Oxford que já vem embutido.

Caramba, estou parecendo vendedor da Amazon, mas é que realmente a coisa é boa. Para quem mora em apartamento e se vê ameaçado com a falta de espaço e a guerra dos ácaros nos seus livros mais velhos, o Kindle é um presente de Deus. Você também pode mudar o tamanho da fonte, em seis tamanhos diferentes, alem de rotacionar a tela em retrato ou paisagem. A bateria dura cerca de duas semanas (faz uma semana e meia que carreguei e ainda tem cerca de 70%) e leio todos os dias, porém só a noite.

Pontos Negativos: Com exceção do Jornal O Globo, o conteúdo é em inglês. Não temos ainda livros em português, mas acredito que isso é uma questão de pouco tempo. O preço do Kindle também é caro para trazer para o Brasil. O aparelho custa US$ 249.00 porém, como nosso pais é essa beleza que todos conhecem, existe imposto alto (sim, é livro, mas vai explicar). O imposto é de US$ 331.00, mais caro que o próprio aparelho, chegando no valor final aqui por mais de mil reais, sem contar o frete. É muito caro. No meu caso uma amiga minha que mora em Porto Rico me trouxe, dentro da cota dela de quinhentos dólares, e minha esposa pagou somente o valor do aparelho mais trinta dólares de frete. Eu li um artigo que um advogado brasileiro conseguiu entrar na justiça e ganhou o direito de trazer o Kindle sem imposto, alegando que é livro (e é mesmo). Li alguns blogs sobre “grandes desvantagens” do Kindle mas não concordei com o design ruim (para mim é perfeito) e com o preço, já que a culpa é do imposto dessa beleza de pais (de novo) e não da Amazon.

Eu acredito fortemente que o futuro do livro é esse e que não vai demorar para termos a febre do Kindle (assim como a febre o iPhone). A Barnes & Noble já está correndo atrás do prejuízo e está lançando seu leitor digital também, o Nook, mas esse não tem aqui por enquanto. Só funciona nos Estados Unidos.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Lugar Nenhum

Estou finalmente lendo “Lugar Nenhum” de Neil Gaiman. Comprei esse livro há muito tempo e agora resolvi lê-lo. Depois que parei de jogar World of Warcraft conforme disse no blog anterior, a palavra “vida” passou a ter algum significado para mim. Estou dando vazão à pilha de livros que comprei e ainda não li (que vergonha).

Lugar Nenhum trata de uma história de fantasia, no submundo de Londres, cujas coisas ficam bem fora da realidade. Richard Mayhew, personagem principal, vê sua vida como conhece desaparecer após ajudar uma garotinha chamada Door, que vive na “Londres de baixo”, ou no submundo da cidade, no subterrâneo da cidade. Interessante é comparar o estilo de narrativa com outro autor que gosto bastante, também de fantasia, chamado Terry Pratchett. Esse estilo mistura um humor inglês que para mim é bem engraçado, mas sei que muitos detestam. Vou colocar um trecho do livro aqui para vocês entenderem do que estou falando:

“Old Bailey não era uma daquelas pessoas nascidas para contar piadas. Apesar dessa deficiência, ele tentava. Adorava contar histórias compridas e entediantes, que sempre terminavam com um trocadilho horrível, embora com freqüência ele não conseguisse se lembrar do trocadilho quando chegava a hora. Seu único público consistia em alguns pássaros presos, que (principalmente as gralhas) viam aquelas piadas como parábolas profundas e filosóficas para explicar a condição humana. De vez em quando, os pássaros pediam para ele contar mais uma de suas divertidas histórias.

- Está bem, está bem, está bem... – Disse Old Bailey. – Se vocês já ouviram essa é só falar. Um homem entrou num bar. Não, não era um homem. A piada é de outro jeito. Desculpem. Era um cavalo. Um cavalo... não... um cubo! Três cubos. Isso. Três cubos entraram num bar.


Uma enorme gralha velha vez uma pergunta. Old Bailey esfregou o queixo e encolheu os ombros.


- Ah, mas eles podiam. É só uma piada. Os cubos sabem andar na piada. Então um cubo pede uma bebida para ele e para cada um de seus amigos. E o barman diz: ‘Só servimos militares aqui’. Então ele vai até os outros cubos e diz: ‘Eles só servem militares aqui’. E é uma piada, então o cubo do meio também pede e não ganha, e aí o último cubo pega um pincel e faz uma bolinha de um lado, duas do outro, três do outro, quatro do outro, cinco do outro e seis do outro... E também pede uma bebida.


A gralha grasnou de novo, com ar sábio.

- É, isso aí, três bebidas. E aí o barman diz: ‘Por um acaso você é militar?’. Daí ele diz, o cubo diz: ‘Sou dado’. Soldado, entendeu? Sou dado. Um trocadilho. Muito engraçado, muito engraçado.”

Bem, eu achei engraçado. Recomendo a leitura. Interessante que “Lugar Nenhum” é também uma música da finada banda “Tantra”, que surgiu e morreu e aparentemente só eu gostei. Inclusive fui num “show” deles, com uma platéia de quase 15 pessoas. Bem , é isso.