terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O Apartheid nos Supermercados

Hoje um amigo do trabalho estava reclamando do desrespeitoso atendimento de um dos supermercados populares em que ele foi, por parte de seus funcionários. Disse que foi desrespeitado quando um funcionário pegou o carrinho de meu amigo enquanto este procurava o sal no corredor da frente para recolher os produtos do supermercado. Quando ele chegou, seu carrinho estava cheio de coisas que não eram dele, e já havia gastado [1] ali meia hora para escolher os produtos. O funcionário disse simplesmente que não iria retirar os produtos que não eram dele, ali colocados pelo funcionário, e pronto. Este meu amigo saiu e foi fazer suas compras em outro supermercado, um considerado elitista. Lá, num local bem diferente, ao som de Jazz e ambiente limpo e claro, bem diferente do outro em que havia saído, fez suas compras com calma, e viu que a conta estava dando praticamente a mesma coisa. Diga-se de passagem, ambos supermercados fazem parte do mesmo conglomerado de empresas.

O Brasil hoje passa por uma situação de crescimento econômico, mas na minha concepção está tomando o caminho errado. Parece que cresce somente em uma parcela da sociedade, enquanto temos a grande maioria dos menos beneficiados tratados como lixo, com transportes emporcalhados, supermercados sujos e com atendimento mau educado. As classes menos privilegiadas estão assumindo uma postura de desprendimento social. Sua parcela de contribuição cívica está beirando a zero porque talvez a educação não chegou a eles da maneira em que deveria ter chegado, com compromisso social. Talvez o maior culpado disso foi a Ditadura Militar, que tomou a possibilidade das escolas ensinarem da maneira correta, e degradou o ensino dessa maneira em que estamos hoje, criando pessoas cínicas. Cínicas assim como Diógenes por volta do ano 400 A.C. que, quando perguntado pelo rei Alexandre Magno se tinha algum desejo, e caso tivesse seria imediatamente satisfeito, Diógenes respondeu apenas "Sim, desejo que te afastes da frente do meu sol".

O povo em geral não tem esse sentimento de posse, de patriotismo para com o Brasil, nem brigam pelos seus direitos. Querem ou fugir daqui, com piadas do tipo "O Brasil tem saída: O Aeroporto", ou estão se lixando para tudo isso e o importante é o pagode do final de semana. Como disse em posts anteriores, por que um governo prefere investir num funcionário público para ficar carimbando um papel oito horas por dia, sete dias por semana, se poderia investir nesse funcionário mandando-o estudar, e produzir alguma coisa útil, mesmo que este nunca produzisse nada de importante? As chances seriam maiores de termos algum fruto do nosso dinheiro revertido em benefícios para o país a deixar esse indivíduo carimbando um papel.

Voltando ao Supermercado, temos hoje claramente uma espécie de Apartheid, só que em vez de brancos e negros temos o rico, que faz suas compras num local limpo e agradável, sendo atendido por pessoas bem educadas, e o pobre que faz suas compras num supermercado sujo, escuro, fedido, sendo atendido por pessoas despreparadas. Você já viu supermercado bom em periferia? Vi que a mesma coisa acontece com as farmácias. O que está acontecendo com o Brasil? Queremos esse tipo de segregação? E não é questão de preço, porque podemos ver que não são discrepantes, inclusive os supermercados "elitistas" possuem itens até mais baratos, mas é a forma como se encara essa situação por parte das pessoas que é o problema. Você acha que o Brasil andou para frente ou o crescimento foi apenas para inglês ver? Onde iremos parar com esse pensamento? Aliás, temos algum pensamento aqui?

[1] Antes que alguém me corrija, segundo o Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa, segunda edição, de Domingos Paschoal Cegalla, usa-se gastado com os auxiliares ter e haver (voz ativa): "Ele tinha (ou havia) gastado muito dinheiro em apostas." Página 179.