sexta-feira, 20 de junho de 2014

Pervertido


“Custom is second nature. Be accustomed to a bald head, sufficiently accustomed, and hair on it would seem monstrous.”
ISAAC ASIMOV, Prelude to Foundation

Tenho uma grande dificuldade em entender o sexo dentro da sociedade Cristã. Sei que a Bíblia é bem específica em relação ao sexo, em que deve ser praticado apenas por marido e esposa dentro do casamento entre ambos. Observamos Paulo dizendo em Hebreus 13:4 que o sexo deve ser praticado dentro do matrimônio, e que deve ser praticado de fato, como em 1 Coríntios 7:5, que não se deve transar com outra pessoa senão o marido ou a esposa, como em Gálatas 5:19. O que chamo a atenção aqui é sobre o motivo do sexo ser tratado como maior pecado entre os cristãos, ou o pecado mais vigiado por nós Cristãos (em que adoramos praticar o julgamento contra nossos irmãos, algo terminantemente proibido por Jesus em Mateus 7:1). Pegando o exemplo de Gálatas 5:19-21 vemos que Paulo está falando das obras da carne, e quem as pratica (as tem como práticas cotidianas) não herdará o reino de Deus. Dentre essas várias práticas da carne que temos que deixar de lado estão: a fornicação, o adultério, a impureza e a lascívia (propensão para a sensualidade). Porém, temos também a idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias (bate-boca), emulações (rivalidades), iras, pelejas, dissensões (desavença), heresias, e (preste atenção nas próximas) invejas, homicídios, bebedices e glutonarias (Gálatas 5:19-21). Olha que interessante! Tudo isso faz o cristão se afastar de Deus e, portanto, não é só o sexo. O sexo é um dos itens na lista. 

Já vi muita gente que só  posta foto de prato de comida no Facebook (adoração?) e fica julgando o outro por causa de suas intenções sexuais, seja pelo filme que viu ou o livro que leu. Psicologicamente falando, julgar atitudes alheias quase sempre é uma forma de revelar a si mesmo, ou no mínimo expor as próprias tendências. Os cristãos, em sua maioria, vê o sexo como algo pecaminoso, feio, sujo, feito para ser uma armadilha entre o homem e Deus, e isso tende a refletir no próprio casal cristão. Quem não pensa em sexo porque o acha mau, não o pratica bem. E se não o pratica bem, limita o prazer de seu parceiro. Logo, é uma reação em cadeia. O sexo do casal cristão vira rotina e o desejo de traição, mesmo que involuntário, aumenta. E tudo porque foi incutido essa aberração que sexo é do demo. Sou casado e não faço sexo com outras mulheres, porém não fico a todo momento julgando quem o faz, nem reprimindo um comercial na TV, ou um filme que explora o tema, ou a Globeleza. Assim como o ato de comer ou beber, o sexo nos foi dado por Deus, e quanto mais o reprimirmos, mais vamos querer saber como é. Que tal se pudéssemos entender o sexo como algo natural, divino, bom, saudável e ter desejos sexuais algo natural também? Claro que, assim como não vou comer um leitão inteiro de uma só vez, ou beber álcool até cair na calçada, também vou controlar o meu sexo para ser feito e desejado para com minha esposa apenas, mas não vou ficar me reprimindo a cada vez que olhar uma bunda na televisão. Isso causa uma disfunção psicológica que mais atrapalha que ajuda. Quanto mais proibido for, mais aumenta o desejo de se fazer. É importante colocar o sexo na lista dos itens a se vigiar, assim como também todos os outros itens citados em Gálatas, porque mesmo que você seja um super puritano sexual (o que duvido muito) e continua comendo do jeito que come, julgando do jeito que julga, enojando-se do seu irmão, brigando com todo mundo, invejando tudo, sendo orgulhoso de seus feitos, dificilmente você estará agradando Deus. Sexo é muito bom, e deve ser praticado e discutido pelo casal, sobre suas preferências, posições e maneiras de ser feito, pois cria um comprometimento, uma participação da “uma só carne” com um só pensamento. Essa coisa de proibido vai piorar a situação. 

Enquanto consideramos que sexo é o maior pecado, significa que não nos desprendemos da relação forte que nosso corpo, ou carne, tem sobre nossa mente, e não somos espirituais o suficiente para amarmos o próximo como a nós mesmos, não no sentido sexualizado, mas no sentido em que Jesus amou a humanidade mesmo sendo humilhado e castigado por ela. Fico olhando alguns “crentes” que conheço dando sermões, batendo no peito, dizendo o que é certo e errado por aí, e se esquecem de amar o outro, de ter compaixão, de orar pela pessoa ou ajudar. Parece que esperam o Reino de Deus como uma carruagem (ou redemoinho) que buscou Elias (2 Reis 2:1), toda flamejante, cheia de pompas, que chegará no meio de todos, e ele, o crente, com sua dívida devidamente paga, será arrebatado e levado ao Reino de Deus, cabelos soltos ao vento, sorriso da vitória no rosto. Jesus porém disse que o Reino de Deus não vem com aparência exterior. O Reino de Deus está entre nós. 

“E, interrogado pelos fariseus sobre quando havia de vir o reino de Deus, respondeu-lhes, e disse: O reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui, ou: Ei-lo ali; porque eis que o reino de Deus está entre vós.” Lucas 17:20-21

Só para terminar, existe um livro de Isaac Asimov chamado “Prelúdio à Fundação” em que um povo chamado Mycogenians proíbe terminantemente ter cabelos na cabeça em sua sociedade fechada e super religiosa. Adivinha qual é o maior prazer desejado por lá? Tocar uma cabeça com cabelos! Por isso a frase que coloquei no começo do artigo tem tudo a ver com esse assunto, e pode ser traduzida assim: “O costume é uma segunda natureza. Esteja acostumado a uma cabeça careca, suficientemente acostumado, e ter cabelos nela pareceria monstruoso”.

Vamos vigiar o sexo e também vigiar a língua e os olhos, que costumam estar mais em pecado que nossos desejos sexuais.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Noé, de Darren Aronofsky


Uma ótima crítica do filme Noé, de Darren Aronofsky foi feita pelo doutor norte americano Brian Mattson, Ph.D. em Teologia Sistemática pela Universidade de Aberdeen. Tomei a liberdade de traduzir para o português. O link original encontra-se aqui.





SIMPATIA PELO DEMÔNIO


No novo épico condecorado de Darren Aronofsky, Noé, Adão e Eva são luminescentes e desencarnados, até o momento em que comem o fruto proibido. Tal coisa não é encontrada na Bíblia, é claro. Isto, e uma gama de outros detalhes imaginativos de Aronofsky, como monstros gigantes de lava, têm causado muitas coçadas de cabeça dos críticos. Evangélicos de mente conservadora deram uma colher de chá ao filme devido às “liberdades” tomadas do texto de Gênesis, enquanto um grupo mais liberal está em favor de dar mais folga para o diretor. Afinal, não deveríamos esperar que um ateu professo tivesse as mesmas ideias de “respeito” aos textos sagrados como um crente na Bíblia faria.
Ambos os grupos estão errados, completamente. Aronofsky não “tomou liberdade” ou qualquer coisa assim.

A Bíblia não é o seu texto base.

Em sua defesa, suponho, o filme não foi anunciado como tal. Em nenhum lugar se diz que este filme é uma adaptação do Gênesis. Ele nunca foi anunciado como "Noé da Bíblia", ou "a história bíblica de Noé". Em nossos dias estamos vivendo tanto nesse clima de catar migalhas de cristandade que, quando alguém diz que quer fazer “Noé”, todo mundo assume que isso significa uma versão da história que há na Bíblia. Isso não é o que Aronofsky tinha em mente. Tenho certeza que ele foi muito feliz em deixar que o estúdio tenha assumido também essa ideia, pois se soubessem o que ele estaria tramando, nunca permitiriam que fizesse o filme.

Vamos voltar aos nossos primeiros pais luminescentes. Eu reconheci o motivo instantaneamente como sendo comum à antiga religião do gnosticismo. Aqui está uma descrição século 2 sobre o que uma seita chamada de Ophites acreditava:

"Adão e Eva antes tinham luz, eram luminosos, e por assim dizer corpos espirituais, uma vez que tinham sido formados assim. Mas quando chegaram aqui, os corpos se tornaram sombrios, gordos e ociosos. "-Irineu de Lyon, Contra as Heresias, I, 30.9

Ocorreu-me que uma tradição mística mais estreitamente relacionado com o judaísmo, chamada Cabala (que a cantora Madonna tornou popular há uma década ou mais), certamente teria mantido uma visão semelhante, uma vez que é essencialmente uma forma de gnosticismo judaico. Eu espanei (sério: tive que tirar o pó) minha cópia do trabalho do século 19 de Adolphe Franck, The Kabbalah, e rapidamente confirmei minhas suspeitas: "Antes eles foram seduzidos pela sutileza da serpente, Adão e Eva não eram apenas isentos da necessidade de um corpo, mas não tinha sequer um corpo, ou seja, eles não eram da terra."

Franck cita o Zohar, um dos textos sagrados da Cabala:

"Quando nosso pai Adão habitou o Jardim do Éden, ele estava vestido, como todos estão no céu, com uma roupa feita de luz superior. Quando ele foi expulso do Jardim do Éden e foi obrigado a submeter-se às necessidades deste mundo, o que aconteceu? Deus, as Escrituras nos dizem, fez Adão e sua esposa túnicas de pele e os vestiu; pois antes disso eles tinham túnicas de luz, da luz mais alta, usada no Éden ... "

Coisas obscuras, eu sei. Mas a curiosidade tomou conta de mim e eu mergulhei direito no buraco do coelho. [1]
Descobri que o primeiro filme de Darren Aronofsky foi: Pi. Quer saber seu assunto? Quer mesmo? Tem certeza?

Cabala.


Se você acha que é coincidência, melhor chamar um ente querido para fazer uma tomografia no seu cérebro.


Já tenho sua atenção? Ótimo.


O mundo de Noé de Aronofsky é completamente gnóstico: um universo classificado de "superior" e "inferior" O "espiritual" é bom, e muito, muito, muito "lá em cima", onde o deus sem falar inefável habita, enquanto que o "material" é ruim, e assim é até aqui, onde os nossos espíritos são encarcerados em carne material. Isto não só é verdade para os filhos e filhas de Adão e Eva caídos, mas também anjos caídos, que são explicitamente descritos como sendo espíritos presos dentro de um "corpo" material de lava derretida e resfriada.

Até que eles são personagens bem legais no filme, mas também são notórios em especulação gnóstica. Gnósticos chamam Archons, seres divinos ou anjos menores que ajuda "O Criador" na formação do universo visível. E a Cabala tem um panteão de seres angelicais próprios para cima e para baixo da escada de "ser divino." E anjos caídos nunca são totalmente caídos neste tipo de misticismo. Para citar o Zohar, novamente, um texto da Cabala central: "Todas as coisas de que este mundo é composto, o espírito, assim como o corpo, vai voltar para o princípio e a raiz de onde vieram." Engraçado. Isso é exatamente o que acontece com os monstros de lava de Aronofsky. Eles redimem-se, mudam a sua pele material exterior, e voam de volta para os céus. Aliás, notei que no filme, como a família está viajando através de uma terra desolada, Shem pergunta ao pai: "Isso é uma mina Zohar?" Sim. Esse é o nome do texto sagrado da Cabala.


O filme inteiro é, figurativamente, uma mina "Zohar".


Se havia alguma dúvida sobre esses "Watchers" (observadores), Aronofsky dá vários nomes a eles: Semyaza, Magog, e Rameel. Eles são todos demônios conhecidos na tradição mística judaica, não só na Cabala, mas também no livro de 1 Enoque.


O que? Demônios são redimidos? Adolphe Franck explica a cosmologia da Cabala: "Nada é absolutamente ruim; nada é maldito para sempre, nem mesmo o arcanjo do mal ou a fera venenosa, como ele é chamado às vezes. Chegará um momento em que ele vai se recuperar o seu nome e sua natureza angelical. "


Beleza. Isso é estranho. Mas, ei, todo mundo no filme parece adorar "O Criador", certo? Certamente Ele tem isso em seu favor! Só que quando os gnósticos falam sobre "O Criador", eles não estão falando de Deus. Opa, aqui em um mundo rico que desfruta dos frutos da cristandade o termo "Criador" geralmente denota o Deus vivo e verdadeiro. Mas nesse caso temos um pouco de "gnosticismo 101" [2] para você: o Criador do mundo material é um ignorante, arrogante, ciumento, exclusivo, violento, de baixo nível, filho bastardo de uma divindade de baixo nível. Ele é responsável pela criação do mundo "não espiritual" de carne e matéria, e ele é tão ignorante do mundo espiritual que ele se imagina o "único Deus" e exige obediência absoluta. Eles geralmente chamam de "Yahweh" (senhor) ou outros nomes, também (Ialdabaoth, por exemplo).


Este Criador tenta manter Adão e Eva afastados do verdadeiro conhecimento do divino e, quando eles desobedecem, este criador fica furioso e expulsa-os do jardim. Em outras palavras, caso você esteja perdendo o enredo aqui: A serpente estava certa o tempo todo. Esse "deus", "O Criador", a quem eles estão adorando está retendo algo deles que a serpente irá proporcionar: a própria divindade.


O mundo de misticismo gnóstico é desconcertante com uma infinidade de variedades. Mas, em geral, eles têm em comum que a serpente é "Sophia", "Mãe", ou "sabedoria." A serpente representa o verdadeiro divino, e as alegações de "O Criador" são falsas.

Então, é a serpente o personagem mais importante no filme?

Vamos voltar ao filme. A ação é aberta quando Lameque está prestes a abençoar seu filho, Noé. Lameque, um pouco estranho para um patriarca de uma família que segue a Deus, tira uma relíquia sagrada, a pele da serpente do Jardim do Éden. Ele envolve-a em torno de seu braço, estende a mão para tocar o seu filho, porém, em seguida, um bando de saqueadores os interrompe e a cerimônia não é concluída. Lameque é morto, e o "vilão" do filme, Tubal-Caim, rouba a pele de cobra. Noé, em outras palavras, não obtém qualquer bênção que a pele da serpente lhe daria.

A pele não se acende magicamente no braço de Tubal-Caim, então, aparentemente, ele não fica "iluminado", tampouco. E é por isso que todo mundo no filme, incluindo protagonista e antagonista, Noé e Tubal-Caim, está adorando “O Criador”, pois Eles estão todos iludidos!

Deixe-me esclarecer algo aqui: Muitos críticos expressaram alguma confusão sobre o fato de que não há quaisquer personagens que façam algum tipo de ligação e que todos eles parecem estar adorando o mesmo Deus. Tubal-Caim e seu clã são malditos e do mal e, como se vê, Noé também é muito mal quando ele abandona a namorada de Ham e quase mata duas crianças recém-nascidas. Alguns acharam que isso era uma espécie de pseudo-filosofia sobre como há mal em todos nós. Aqui está um trecho do Zohar, o texto sagrado da Cabala:

"Dois seres (Adão e a serpente Nachash) tiveram relações com Eva (a segunda mulher), e ela concebeu e deu à luz a dois filhos. Cada um seguiu um dos progenitores masculinos, e seus espíritos separados, um para um lado e o outro para o outro, e de modo semelhante os progenitores. No lado de Caim são todos os redutos da espécie do mal; do lado de Abel vem de uma classe mais misericordiosa, ainda que não totalmente benéfica - bom vinho misturado com o mau".

Isso soa familiar? Sim. Noé de Darren Aronofsky, no topo.

De qualquer forma, todo mundo está adorando a divindade do mal. Aquele que quer destruir todos. (A propósito, na Cabala muitos mundos já foram criados e destruídos). Ambos, Tubal-Caim e Noé, possuem cenas idênticas, olhando para o céu e perguntando: "Por que você não fala comigo?" "O Criador" os abandonou porque tem a intenção de matá-los todos.

A Noé tinha sido dada uma visão da vinda dilúvio. Ele está se afogando, mas vê os animais flutuarem para a superfície para estarem seguros na arca. Nenhuma indicação é dada de que Noé seria salvo; Noé visivelmente faz parte da desgraça, durante um momento estranho em que explica as coisas para sua família. Ele está afundando enquanto os animais, "inocentes", estão emergindo. "O Criador", que dá esta visão para Noé quer que todos os seres humanos morram.

Muitos críticos pensaram sobre a mudança de Noé em um maníaco homicida na arca, querendo matar duas filhas recém-nascidas de seu filho, fora uma reviravolta nesta história esquisita. Não é estranha, entretanto. Na opinião do diretor, Noé está adorando um falso maníaco homicida de um deus. Quanto mais fiel e "piedoso" Noé se torna, mais ele se torna homicida. Ele está se tornando, cada pedacinho, a "imagem de Deus" que o cara "mal", Tubal-Caim, continua a afirmar de que a "imagem de Deus" é.
Mas Noé falha com “O Criador”. Ele não consegue acabar com toda a vida que seu deus quer que ele faça.  "Quando eu olhei para aquelas duas meninas, meu coração se encheu de amor", nada mais, diz ele. Noé agora tem algo que "O Criador" não tem: Amor. E Misericórdia. Mas de onde ele tirou isso? E por que agora?

Na cena imediatamente anterior Noé matou Tubal-Caim e recuperou a relíquia de pele de cobra: "Sophia", "Sabedoria", a verdadeira luz do divino. Apenas uma coincidência, tenho certeza.

Ok, estou quase terminando. O arco-íris não vêm no final, porque Deus faz uma aliança com Noé. O arco-íris aparece quando Noé fica sóbrio e abraça a serpente. Ele envolve a pele em volta do braço, e abençoa a família. Não é Deus que os manda agora multiplicar e encher a terra, mas Noé, na primeira pessoa, "eu", usando o talismã serpente. (Ah, e por falar nisso, não é por acaso que o arco-íris é todo circular. O círculo do "Um", o Ein Sof, na Cabala, é o sinal de monismo).
Observe esta mudança temática: Noé foi um bêbado uma cena antes. Agora ele está sóbrio e "iluminado". Cineastas nunca fazem isso por acidente.

Ele transcendeu e superou essa divindade homicida e ciumenta.

Deixe-me dizer um par de advertências para tudo isso: especulação gnóstica é uma coisa diversa. Alguns grupos parecem radicalmente "dualistas", onde "O Criador" é realmente um "deus" diferente por completo. Outros são mais "monistas", onde Deus existe em uma série de emanações descendentes. Outros têm que a divindade inferior "cresce" e "amadurece" e assim ascende a "escada" ou "cadeia" de ser das alturas mais elevadas. Noé provavelmente se encaixa um pouco em cada categoria. É difícil dizer. Minha outra advertência é esta: não há dúvida de que há uma tonelada de imagens cabalistas, citações, e temas neste filme que eu não poderia pegar em uma única sessão. Por exemplo, Como a Cabala produz suas fantasias geralmente baseadas em letras hebraicas e números, eu notei que os "Vigilantes" pareciam estar deliberadamente sob a forma de letras hebraicas. Mas você não vai querer me pagar para ir ver este filme de novo para que eu pudesse perfurar ainda mais essa mina Zohar e ver o que mais poderia encontrar. (Num ponto de vista puramente cinematográfico, achei na sua maior parte insuportavelmente chato).

O que posso dizer com uma única sessão vista é o seguinte:

Darren Aronofsky tem produzido uma releitura da história de Noé sem referência à Bíblia. Isto não é, como ele alegou, apenas uma tradição judaica "Midrash." Esta foi uma releitura totalmente pagã da história de Noé dirigida a partir de fontes cabalistas e gnósticas. Para mim, não há dúvida sobre isso.


Então me deixe dizer-lhes o que é o verdadeiro escândalo nisso tudo. Não é que ele fez um filme que não partiu da história bíblica. Não é que tenha decepcionado os críticos cristãos que tinham expectativas muito altas. O escândalo é este: de todos os líderes cristãos que fizeram grande esforço para endossar este filme (por qualquer motivo que seja: "é um começo", ou "pelo menos, Hollywood está fazendo algo sobre a Bíblia", etc), e todos os líderes cristãos que crucificaram Aronofsky por "não seguir a Bíblia" ...

Nenhum deles conseguiu identificar uma subversão flagrantemente gnóstica da história bíblica, quando estava bem na frente de seus rostos.

Eu acredito que Aronofsky fez isso como uma experiência para fazer de tolos todos nós: "Você é tão ignorante que eu posso colocar Noé (pô, é o Russell Crowe!) na tela grande e retratá-lo literalmente como a "semente da serpente" e todos vocês vão assistir e apoiar essa ideia".

Ele está rindo muito agora. E que todos se envergonhem de terem caído nessa.

E que experiência gnóstica! No gnosticismo, somente a "elite" é "sábia" e detém o conhecimento secreto. O resto é tudo ingênuo, tolo e ignorante. O "evento" deste filme é destinado a ilustrar a premissa gnóstica. Somos ingênuos e tolos. Será que a cristandade poderia acordar, por favor?

Em resposta, eu tenho uma sugestão simples:

Daqui em diante, nem uma única graduação do seminário será concedida se o aluno não demonstrar que ele tenha lido, digerido e entendido Irineu de Lyon em Contra as Heresias

Porque este é o 2 º século de novo.


Pós-escrito

Alguns leitores podem pensar que estou sendo duro com as pessoas por não perceber o gnosticismo no coração deste filme. Eu não estou esperando telespectadores letrados para perceber essas coisas. Eu esperaria exatamente o que temos visto: confusão de coçar de cabeça. Eu tenho um padrão totalmente diferente para os líderes cristãos: universitários e professores de seminário, pastores e Ph.Ds. Se a pele da serpente enrolada em torno do braço de um personagem bíblico divino não soou qualquer alarme ... eu não sei mais o que dizer.

Update - 2014/04/02

Eu publiquei um vídeo curto de acompanhamento aqui .

E um importante post follow-up aqui .


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[1]: alusão à Alice no País das Maravilhas (N.d.T.)
[2]: o número 101 refere-se a qualquer curso introdutório nas universidades americanas, então o termo Gnosticismo 101 significa “o gnosticismo básico”. (N.d.T.)